O ano é 2025. A população urbana mundial chega a quase 5 bilhões de pessoas. João acaba de se formar em Arquitetura e Urbanismo. Os desafios não são mais os mesmos que em 2020, quando entrou na universidade. Com o diploma em mãos irá disputar com outros arquitetos uma vaga no mercado de trabalho, diante de um cenário de maturidade tecnológica, onde se vê a evolução das cidades e casas inteligentes, da internet 5G, da Inteligência Artificial, da internet das coisas, dos wearables, do conceito 4.0, dos Omnichannels.
Por outro lado, João se depara com um ambiente de recessão econômica, de aumento da concentração de renda, das desigualdades sociais e da expectativa de vida, das mudanças climáticas severas, do encolhimento e isolamento das famílias. O grande desafio para a arquitetura é trabalhar em consonância com a sustentabilidade, com a qualidade de vida e a rápida expansão tecnológica, na criação de ambientes agradáveis a todas as gerações.
Comércio
Em 2025, diversos espaços comerciais estão ameaçados, e até mesmo os shopping centers estão se adequando a um tipo de consumidor que realiza suas compras pela internet e vai às lojas apenas para buscar ou trocar mercadorias, pois o e-commerce e os Omnichannels estão em efervescência. Com isso, os malls funcionam mais como grandes centros de lazer, que abrigam cinemas e praças de alimentação, e suas lojas demandam profundas adequações. Os centros de compra precisam ter pisos antiderrapantes, que mudam de cor, e espaços com mapas holográficos, dispositivos de voz e assistentes virtuais para orientar os consumidores.
O comércio em geral sofre queda significativa com o crescimento do e-commerce e dos Omnichannels. Alguns dos estabelecimentos que João frequentava com seus pais estão sendo adaptados para receberem famílias, ou seja, estão virando moradias. Diante da crise, diversos espaços ganham novas funcionalidades e, por isso, passam por restaurações e reformas.
Comércio, indústria e serviços incorporam todas as vantagens da internet 5G, que permite compartilhamento de informações em segundos; da robotização, que inclui mais investimentos em máquinas e menos investimentos em mão-de-obra humana; da inteligência artificial.
Mobilidade urbana
A excessiva concentração de renda faz com que casas e apartamentos populares tenham demandas cada vez menores, exceto as construções padrões. Por outro lado, o setor público investe nas cidades inteligentes e sustentáveis, que exigem novas formas de planejamento urbano. Carros elétricos, cadeirantes, idosos, crianças, pedestres, ciclistas, animais de estimação trafegam pelas ruas meticulosamente pensadas e organizadas para garantir a segurança, a acessibilidade e a mobilidade.
Dispositivos estão instalados nos corredores viários, nos pontos de ônibus, nos postes, nos estacionamentos, nas ciclovias, nos celulares, nos relógios, nos carros, dando forma ao que chamamos de cidades inteligentes, auxiliando cidadãos e setor público no sentido de garantir maior eficácia nos deslocamentos. Estacionamentos, drones e postos de abastecimento de veículos elétricos são elementos comuns da paisagem urbana. Toda essa tecnologia divide espaço com as hortas comunitárias, inseridas estrategicamente em locais, antes ociosos, para garantir trabalho, renda e alimentação aos mais carentes, além de dar sua contribuição para o meio ambiente.
O setor público demanda também mais praças, com espaços integrados, que garantem a acessibilidade de jovens, crianças, adultos, idosos e animais de estimação, formando grandes corredores verdes, com espaços dedicados a apresentação de grupos teatrais, bandas e concertos, playgrounds, aparelhos de ginástica, banheiros comunitários, chafarizes. Outra demanda dos governos locais é a adequação de prédios antigos de acordo com normas de segurança, acessibilidade e ambientais atuais, que exigem rampas de acesso; elevadores com sistema Braille e comando de voz; aproveitamento de luz natural; incorporação de energias renováveis; jardins verticais e telhados verdes.
Diante da concentração populacional nos grandes centros urbanos e da crise ambiental, em 2025, muitos dos prédios, anteriormente de posse do setor público, passaram a pertencer ao setor privado, que prefere transformar tais espaços em moradias, aproveitando a iluminação natural desses locais, investindo pesadamente em energia solar fotovoltaica e jardins verticais. Muitos desses edifícios foram transformados em espaços multifacetados, que comportam apartamentos residenciais, comércio e serviços, demandando novos projetos arquitetônicos.
Moradias populares
Em se tratando de moradias populares, o setor de construção está estagnado, se levarmos em conta que a crise econômica mundial afeta em peso o Brasil, provocando o esmagamento da classe média e a alta concentração de renda. A crescente taxa de desemprego e o alto custo de vida forçam as famílias a serem cada vez menores e a buscarem alternativas como o trabalho em casa ou investimento em um negócio próprio.
Em 2025, os espaços destinados às construções são até 50% menores que os terrenos destinados às edificações em 2020. João pode pensar na possibilidade de trabalhar na execução de projetos inovadores e compactos, voltados para os edifícios “caixas de fósforo”, com móveis embutidos, com ou sem áreas de lazer, mas que já incorporam espaços de convivência para animais domésticos, portarias que utilizam QR Code e alças de embarque para veículos de aplicativos.
Os prédios residenciais são projetados para abrigar clientes que precisam morar e trabalhar em um mesmo local. Tais espaços estão em voga em 2025, já que as pessoas tendem a morar sozinhas e/ou optam por não ter filhos depois que se casam.
Residências inteligentes e sustentáveis
Famílias mais ricas investem em casas ou apartamentos modulares, que se adaptam conforme suas necessidades. A crescente taxa de concentração populacional nos grandes centros urbanos e o alto índice de desemprego provocam insegurança nas classes A e B, forçando-as a morar em condomínios fechados ou em prédios com infraestrutura de portaria 24 horas, segurança eletrônica, entre outros aparatos. Parte das classes A e B está concentrada nos condomínios das regiões metropolitanas e outra, nas capitais.
Os novos prédios residenciais voltados para as classes mais abastadas incorporam materiais ecologicamente sustentáveis e/ou reciclados, possuem espaços modulares e multifuncionais, adaptáveis conforme a necessidade dos moradores.Tais edificações valorizam a luz natural e são alimentadas por energias renováveis, possibilitando economia de energia elétrica em até 40% e economia de água em até 50%. Além disso, nanotecnologia e a biotecnologia são grandes aliadas da arquitetura, tornando os projetos ainda mais sustentáveis.
Os edifícios incorporam áreas de lazer e/ou espaços pet e são conectados pela internet das coisas, sistemas de inteligência artificial e rede 5G. Esses locais possuem jardins verticais ou instalados em determinados andares, permitindo a convivência com a natureza e com os vizinhos, além da implantação de hortas comunitárias, sendo que o térreo, que interliga as duas ou mais torres, é destinado à instalação de estabelecimentos comerciais e de serviços.
Morar em condomínios de luxo das regiões metropolitanas é uma tendência que se alastra desde os anos 2000 em todo o Brasil. Quem pode construir sua própria moradia opta por residir e trabalhar em um mesmo lugar e, levando em conta que a rede 5G e a holografia tornam as reuniões virtuais como se fossem presenciais, não há necessidade de se ter um lugar para morar e outro para trabalhar. Em 2025, os projetos arquitetônicos estão integrados ao meio ambiente e os espaços são multifuncionais e modulares, rapidamente deixam de servir a uma finalidade para se destinarem a outro objetivo.
E quem investe na construção da própria moradia também projeta uma casa inteligente, que permite a conexão de todos os ambientes e aparelhos, por meio de um toque, seja em um controle específico, celular ou wearable. Cortinas se abrem, micro-ondas é acionado e TV é ligada. Sistema de alarme e som são acionados. Isso pode ser feito inclusive por comando de voz, graças à inteligência artificial.
Mercado de trabalho
Diante de uma realidade diferente da de seus pais, João se sente invadido por uma maré de possibilidades que surgem em função das mudanças tecnológicas, econômicas, sociais e climáticas. Apesar de existirem menos de 200 mil arquitetos no Brasil, o que diminui a concorrência com outros colegas, João sabe que o mercado de arquitetura cresce timidamente. Então o que o recém-formado deve fazer, a não ser dominar novos mercados e tecnologias, para ter um diferencial?
É notável o avanço da internet 5G, da Inteligência Artificial, das cidades e casas inteligentes, da robotização, da interação máquina-homem via voz, dos wearables, das moradias-escritórios, da integração tecnológica. Também é explícito que a sociedade vive em um país que enfrenta baixo crescimento econômico, alta do desemprego, grande concentração de renda. Talvez, diante de tal cenário, a alternativa seja criar projetos para construção de casas e apartamentos de alto padrão, trabalhar em reformas de casas e estabelecimentos comerciais, prestar serviços para a administração pública.
Como em 2020, o arquiteto continua a projetar; coordenar e organizar as construções de prédios, casas, ambientes internos e externos; levando em conta os melhores materiais a serem utilizados, bem como a ventilação, a iluminação, a acústica, as partes elétrica e hidráulica, e os impactos ambientais da construção. Mas João conta, em 2025, com ferramentas mais aprimoradas, que permitam maior agilidade, integração e assertividade, antes não incorporadas em larga escala pelos arquitetos.
João tem a possibilidade de trabalhar como urbanista, planejando e organizando os espaços urbanos, propondo o uso racional e sustentável dos espaços públicos, levando em conta o crescimento das cidades e bairros, além do desafio constante que é o desenvolvimento sustentável das cidades, que exige a incorporação de novos parâmetros de organização e construção. Já como paisagista, ele terá a oportunidade de cuidar das áreas verdes dos ambientes internos ou externos.
Ele também pode atuar como arquiteto de interiores, arquiteto industrial, arquiteto corporativo, arquiteto cenográfico, bioarquiteto, luminotécnico, restaurador de casas e edifícios, comunicador visual, criando identidade visual de produtos e empresas, pesquisa científica, desenho mobiliário, acompanhar e administrar a execução de obras ou trabalhar na área de tecnologia da construção.
Criatividade, domínio tecnológico e sensibilidade
As tecnologias podem ser concorrentes diretas ou oportunidades. A diferença está em dominar ou não as novas ferramentas que surgem para tornar os projetos mais atrativos. Diante disso, João também pode atuar em Projeção Digital, BIM (Building Information Modeling), visualização arquitetônica em 3D, design gráfico de animação, design de imagens 3D e 4 D, e Social Media Designer.
João pode trabalhar em um escritório ou em casa, já que em 2025 muitas reuniões são realizadas à distância, graças à holografia e à realidade virtual que permitem compartilhamento de ideias e ambientes, sem a necessidade de presença física da equipe de trabalho. Drones, realidade virtual e inteligência artificial tornam as maquetes mais realistas e projetam ambientes 3 D, o que facilita o trabalho dos profissionais envolvidos nas obras.
Bons arquitetos possuem habilidades como foco, atenção, criatividade, cuidado e paciência. Mas quem se adapta aos novos cenários e domina as tecnologias, que se atualizam quase que diariamente, tem grande vantagem em um cenário que força a adaptação de projetos às constantes mudanças. Aqueles que têm sensibilidade para lidar com pessoas cada vez mais isoladas e depressivas conseguem se destacar na profissão.
Mas o que diferencia João no mercado de trabalho é a forma como ele organiza elementos com a finalidade de deixá-los esteticamente bonitos e, ao mesmo tempo, funcionais para moradores e visitantes. Em um mundo complexo e dinâmico, ele trabalha com as possibilidades na arte da transformação, sem deixar de lado a ideia de que o projeto arquitetônico precisa estar em harmonia com a natureza e deve ser fruto da criação coletiva.